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Vinhos de Corte e Vinhos Varietais: qual devo escolher?
Vinhos de Corte e Vinhos Varietais: qual devo escolher?

Vinhos de Corte e Vinhos Varietais: qual devo escolher?

Qual a diferença entre vinhos de corte e vinhos varietais? Essa é uma pergunta muito comum entre os amantes de vinhos, tanto para os mais experientes como para os recém-chegados a esse universo. 

 

Escolher um vinho pode parecer uma tarefa desafiadora em um primeiro momento, mas, com certeza, um divisor de águas na vida de qualquer enófilo ou enófila. Poder identificar preferências pessoais na hora de tirar um vinho da prateleira é a chave para não terminar se desapontando com a compra.

O universo dos vinhos é atravessado por diversas áreas de conhecimento que compreendem a natureza, a geografia e a história, a cultura, o comportamento humano e as principais tradições da sociedade. Cada garrafa carrega consigo uma personalidade, formada por um conjunto dessas características.

Uma dessas particularidades está relacionada com as uvas utilizadas na produção. Se foi apenas uma cepa, ou se uma mistura delas. Quer saber mais sobre o assunto? Confira a seguir o que são os vinhos de corte e vinhos varietais, suas principais diferenças, características e claro, dicas exclusivas!

O que você precisa saber sobre vinhos

Antes de avançar, é importante derrubar alguns mitos:

  1. Um vinho não precisa ser caro para ser bom.
  2. Nem todo vinho serve para ser envelhecido, ou precisa ser envelhecido.
  3. Os vinhos não são necessariamente produzidos a partir de um único tipo de uva.

Essas informações são cruciais para entender as diferenças entre os vinhos de corte e os vinhos varietais.

A priori, o que você precisa saber é que existem diversos tipos de uva e de vinhos:

  • Algumas uvas são mais adequadas para os longos períodos de envelhecimento em barris de carvalho, outras não. 
  • Alguns vinhos são pensados para serem mais frescos e leves, ou expressar todas as características da uva ou do terroir, muitas vezes sem a interferência da madeira.
  • Outros são desenhados pelo enólogo para oferecer uma gama ampla de aromas, sabores e sensações, complexidade que se vê beneficiada pelo uso de diferentes tipos de uvas.
  • Ainda há aqueles que são resultado de décadas de tradição: uvas produzidas em uma mesma região, terroir, métodos utilizados… Esse é o caso dos vinhos com Denominação de Origem (D.O.).

A qualidade de um vinho não depende apenas do tipo da uva, mas também do seu terroir (conjunto de características de clima e território), da safra, colheita e forma de produção. Em nenhum momento a qualidade será definida pelo preço. Dependendo de como foi produzido, um estilo de vinho pode ter sido mais custoso que outro, e isso obviamente vai refletir no preço de venda. 

Além do mais, deixar de lado essa crença de que vinho é algo que precisa ser chique e caro. Em muitos países – principalmente naqueles com forte produção vitivinícola – o vinho é uma bebida típica e de mesa, presente no dia a dia das famílias. Aprender mais sobre vinhos nos ajuda não só a identificar o melhor vinho para nosso gosto, mas também para nosso bolso. 

Vinhos de corte e vinhos varietais, entenda a diferença

Mas então, o que são os vinhos de corte e os vinhos varietais e o que cada um deles traz como características principais para o vinho? Descubra a seguir! 

Vinhos varietais

São vinhos produzidos a partir de uma única uva. Simples assim. 

Um dos livros sobre vinhos com mais uvas citadas inclui 1.368 variedades (Wine Grapes, Robinson, Harding. Vouilamoz, 2012). Um montão, né? Será que alguém já conseguiu experimentar todas na vida?

Uma curiosidade: 

Os vinhos varietais se difundiram como forma de posicionar os vinhos do chamado “Novo Mundo” no mercado mundial. Nas regiões mais tradicionais (o “Velho Mundo”, França, Itália, Espanha, Portugal, etc.) os vinhos eram conhecidos principalmente por sua Denominação de Origem (D.O.), um conjunto de características da região. Varios dos vinhos mais conhecidos levam nomes de lugares, não de uvas. Alguns exemplos são: Borgonha, Bourdoux, Chianti, etc. Cada D.O. dessas permite um grupo de uvas, os vinhos podem ser blends compostos com as uvas permitidas, ou varietais. Nem sempre a informação vem exposta no rótulo. 

Quando Robert Mondavi (pioneiro do vinho na Califórnia) decidiu bater de frente com a produção de vinhos européia (sugiro ver o documentário Mondovino), ele centrou sua estratégia em vinhos varietais. Promover o vinho pela uva, em vez da região. O conceito acabou sendo adotado pelos países do Novo Mundo (Chile, EUA, Argentina, Uruguai, Áfricado Sul, Austrália, Nova Zelândia, etc.) como forma de se diferenciar. Hoje em dia, os países do Velho Mundo também já começaram a colocar vinhos varietais no mercado,

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Como me sinto escrevendo “Velho Mundo” e “Novo Mundo”

Uma característica sobre os vinhos varietais é que muitos deles não passam por envelhecimento em madeira; são vinhos jovens, que expressam as características da uva e do terroir sem interferências. Muitos, mas não todos: existem diversos vinhos varietais Reserva e Gran Reserva.

Para quem está dando os primeiros passos, experimentar varietais jovens é uma ótima opção. Degustá-los permite entender bem as diferenças em intensidade e corpo, além de ser mais fácil para identificar as notas e aromas do vinho

Indo um pouco mais além, experimentar vinhos varietais com contato ou passagem por madeira também ajuda a perceber como cada uva reage a essa interação, quais notas desenvolve. Depois disso, os vinhos de corte se tornam ainda mais interessantes.

Vinhos de corte (blends)

A maioria dos “grandes vinhos” (tanto do Novo Mundo como do Velho Mundo) são vinhos de corte, ou seja, blends compostos por dois ou mais tipos de uvas, muitas vezes com envelhecimento em madeira. 

Mas, calma lá, você falou que não existe isso de vinho melhor e pior, e agora vem com essa história de “grandes vinhos”?

Assim como o cozinheiro, o enólogo é artista e alquimista. O cozinheiro seleciona os melhores ingredientes para preparar um prato de maior complexidade, autoral, que joga com sabores, texturas e sensações. O enólogo desenha e propõe um vinho, estuda as características daquela uva, naquela safra, e faz sua mágica.

Ao misturar tipos de uvas e incluir (ou não) períodos de envelhecimento (em barris de carvalho, garrafa ou outros processos), esse profissional estará jogando com diversos aromas e sabores, prevendo como será a percepção de intensidade, de acidez, de álcool, explorando todo o potencial da matéria prima. O resultado é, naturalmente, um vinho mais complexo, com mais mistérios por descobrir e histórias por contar. 

Um vinho de corte é melhor que um varietal? Definitivamente não. Cada vinho possui suas notas, aromas, texturas, sensações. Cada garrafa é uma garrafa por descobrir. 

Um vinho de corte é mais complexo que um varietal? Provavelmente sim, é por isso que os blends são tão populares entre sommeliers e enófilos mais experientes. 

Sempre devemos buscar maior complexidade? De maneira nenhuma. Cada momento pede um vinho, cada pessoa tem suas preferências. E, se o assunto é harmonização de vinhos, cada prato interage com os vinhos à sua maneira.

Aprenda mais sobre vinhos!

Sabe qual a melhor maneira de entender tudo o que comentamos sobre vinhos de corte e vinhos varietais? Degustando! Veja nosso artigo sobre como degustar um vinho e deixe que sua próxima taça te surpreenda! 

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